Quando estoura uma guerra, as pessoas dizem: “não vai durar muito, seria idiota.” E sem duvida uma guerra é uma tolice, o que não a impede de durar. A tolice insiste sempre, compreendê-la-íamos se não pensássemos sempre em nós. Nossos concidadãos, a esse respeito, eram como todo mundo: pensavam em si próprios. Em outras palavras eram humanistas: não acreditavam nos flagelos. O flagelo não está à altura do homem; diz-se então que o flagelo é irreal, que é um sonho mau que vai passar. Mas nem sempre ele passa e, de sonho mau em sonho mau são os homens que passam e os humanistas em primeiro lugar, pois não tomaram as suas precauções. Nossos concidadãos não eram mais culpados que os outros. Apenas se esqueciam de ser modestos e pensavam tudo ainda era possível para eles, o que pressupunha que os flagelos eram impossíveis.
Continuavam a fazer negócios, preparavam viagens e tinham opiniões. Como poderiam ter pensado na peste que suprime o futuro, os deslocamentos e as discussões? Julgavam-se livres e nunca alguém será livre enquanto houver flagelos.
Continuavam a fazer negócios, preparavam viagens e tinham opiniões. Como poderiam ter pensado na peste que suprime o futuro, os deslocamentos e as discussões? Julgavam-se livres e nunca alguém será livre enquanto houver flagelos.
Albert Camus (A peste)
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