segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Ensaio sobre o crime hediondo



Antes de começarmos; devido à natureza violenta e recheadas de todos vícios humanos conhecidos até essa data; é necessário que o leitor tenha certa prudência.
Os acontecimentos aqui narrados são de maneira geral a realidade pela forma como eu enxerguei os acontecimentos.
É meu ponto de vista! Pode haver dicotomia entre minha visão e a de outrem que participara do drama.
Sugiro que o leitor se disponha a verificar a polifonia de discursos em busca da veracidade, supondo que exista uma.    
Existe um arbitrariedade total na maneira de como encaminho meu escrito.
Começamos, imagine você, pelo começo, pelo menos eu acho isso, não me lembro do antes.
Quando nasci, foi como nascem todos os outros humanos, eu era, pequeno, indefeso, sem dentes, sem voz, e sem instrução.
A minha incapacidade de sobreviver por meus próprios meios, torna-me dependente total de meu genitores.
Essa situação de dependência pode, nos dias de hoje, nas famílias comuns brasileiras, durar toda a encarnação da criatura.
Veja bem, meus pais não tinham um manual pudesse definir como poderiam me criar.
É uma situação bastante traumatizante para todos os envolvidos.
Não havia instrução definindo meu objetivo nesse asteroide frio e desagradável.
Segundo a mitologia Grega culpa das trapalhadas dos irmãos Epimeteu e Prometeu.
Se não gostar de mitologia pegues o que quiser como referência, não obstante, nascemos com absolutamente nada.      
Minha genitora fez o qualquer mãe faz, ofereceu-me seu seio mais por instinto que qualquer outro motivo.
Mamífero voraz que sou suguei-a com voracidade de fome existencial, e segundo ela até os três anos de idade.
A essa família que me abrigou e devo minha vida e grande parte de minhas neuras.
Porém, membros nossa espécie tem uma longa trajetória de aprendizagem antes de seguir só pelas veredas desse sertões que chamam de vida.
Aos sete anos então, para melhor me situar no campo social, apresentaram-me a escola.
Detestei-a desde o primeiro contato, foi ódio profundo ressentido e reciproco à primeira vista.
Obrigado a ficar horas e horas sentado ouvindo uma pessoa com muito pouca paciência e nenhuma aptidão para a pratica de seu oficio, usando de todos os artifícios para tornar a existência daquelas pessoas todas junto a mim ainda mais miserável, foi assim que conheci esse ser chamado professor.
Percebendo isso eu e mais 49 projetos de seres humanos passávamos o tempo em maquinar formas de tornar a vida daquele ser a mais desgraçada possível, esse era o único momento que compactuávamos um bem comum; a destruição do mau, o aniquilamento da besta do apocalipse projetado na imagem daquele ser que tentava nos fazer ler e escrever, mas porém nos oprimia, nos aprisionava e exigia provas da nossa aprendizagem.
Eu como bom bárbaro que era, e talvez ainda seja, boicotava tudo e todos.
Fora isso havia os conflitos internos entre nosso grupo, a composição das pessoas na sala era heterogênea, o fato é que inevitavelmente os grupos, as panelinhas, as gangues se detestavam mutuamente.
Seja pela quantidade de melanina na pele, poder de consumo, credo, sexismo, ou torcedores do mesmo time o sistema estava sempre próximo ao colapso.
Infelizmente eu tinha a cor errada não acreditava e ainda não acredito em absolutamente nada, meu poder de consumo era e ainda é muito próximo a zero, não torso para nenhum time, e como infortúnio pouco é bobagem não tinha boa aparência, sou meio esquisito, imagine vocês que eu lia livros pois era meu único escape daquela sucursal do inferno.
Apanhava e muito, todos os malditos dias que me dirigia a escola e de tanto apanhar comecei a bater um pouco, mas como a minha aparência não ajudava, então este quasímodo que vos fala era sempre o responsável pelo sinistro, é difícil ter cara de culpado; não importava a ocorrência, meus genitores ignoravam minhas mazelas ou não se importavam com elas.
Certa feita munido de uma arma improvisada na saída da escola botei de cama cinco agressores a pauladas.
Observe o porquê de não botar muita fé na justiça, pois não se deram ao trabalho de questionar como um garoto de nove anos pôde agredir cinco jovens com mais de onze anos sozinho.
Afinal eram bons jovens e eu pouco menos que um animal.
A expulsão foi sumaria, graças aos céus.
As pessoas afirmavam que aquilo era ruim mas não conseguia vislumbrar essa assertiva.
Bem ou mal o fato é que eu aprendi a ler, escrever, brigar, enganar, xingar e mentir usando de sinceridade na escola durante minha primeira estadia nela. 
Por ser considerado inapto para aprender coisas mais complexa pelos detentores do poder na época; meu pai optou por me ensinar seu oficio que era a carpintaria.
Jamais fui tão feliz novamente, foi uma época fascinante eu aprendia, eu devorava os ensinamentos de meu pai e nas folga lia livros e assistia filmes ouvia música sertaneja.
Nunca entendi como um homem tão sábio podia viver daquela maneira por isso nunca quis tocar violão um outro oficio em que meu pai era mestre autodidata e compositor, eu nunca compus um texto musical, uma melodia, tinha medo daquelas que condições miseráveis se repetissem em mim, apesar de amar todo tipo de música.
Doravante, aprendi a ouvir e compreender os textos inserido nas canções.
A música tornou-se minha escola, conheci, seu Salvador, Chico, Gil, Caetano, Milionário e José Rico, Pedro Bento e Zé da Estrada..., aonde ia estava sempre acompanhada da minha herança cultural a música penetrava nos espaços físicos, cada pequena fresta era preenchida, minha casa, no trabalho, no puteiro.
Aprendi na música como amar e respeitar uma mulher como neste texto do velho.

Saudação as mulheres
Se um homem chora e sofre por uma mulher, tem todo direito vou dizer agora, pois a grande esperança de seu paraíso está no sorriso de cada senhora. Esse ser humano tem muito valor e seduz o amor com um gesto qualquer e foi através de ti que a luz acendeu. Jesus nasceu e foi o rei do mundo e seu amor profundo proclamou a fé. É por tudo isso que eu tenho certeza que a maior riqueza do mundo é a mulher.

Meu amigo homem preste atenção minha saudação é de um modo geral a tua mãezinha doce criatura com toda ternura lhe criou afinal em sua mão ela segurou seus primeiros passos ela amparou te deixou adulto em pé sorridente seguindo em frente a vida real e no drama atual hoje faz o que quer, mas sem o calor da mulher amada segue a estrada errada em um rumo qualquer.

Se alguém me condena por ser mulherengo eu só me defendo dizendo a verdade: mulher meu amigo é motivo de gloria lhe respondo agora com sinceridade. Seja mariposa ou esposa fiel tem sempre o papel de amar e servir. Na força expressiva de ser racional na doce ternura do amor maternal outra coisa igual ninguém vai sentir, com sinceridade eu vou lhe dizer: sem ter mulher comigo não quero viver!
Salvador Machado
              
Provavelmente eu esteja errado, mas tive privilégio tremendo de ser apresentado a esses seres humanos fabulosos capazes de transformar a sua realidade em som e texto musicado, são esses seres que moldaram minha forma de pensar: talvez o mundo não fosse tão ruim assim.
Lá pelos treze anos de idade cai na vida sozinho e de cabeça, exercendo a carpintaria e até não estava tão mau aos quatorze anos nasceu duas de minhas primeiras filhas em Manaus com duas mulheres diferentes em idade e melanina; uma branca de 40 anos e outra com uma mulata estonteante e maravilhosa de 25 anos.
O problema não era grana, mas o sexo! eu praticará com grande número de fêmeas, isso tornou minha estadia na cidade bastante problemática, para dizer o mínimo, aconteceu o inevitável, tentaram abreviar minha presença nessa nave, porém não obtiveram êxito e esse foi o meu primeiro contato com a morte frente a frente.
Jovem demais achava-me invencível, devido a minha arrogância fiquei, sem grana, transporte e pouso no meio do caminho entre Manaus e Porto velho, sobrou-me a caixa de ferramenta de carpintaria e roupa do corpo, o resto fora-me subtraído por alguns gatunos que eu negligenciará.
Minha interessante situação fora melhorada, por uma mulher a quem jurei amor eterno e com ela obtive roupa, casa, comida e três messes depois uma surra que quase me levou a óbito aplicada por seu marido que havia retornado na sombra da noite e ficou bastante contrariado em me encontrar no seu leito.
Eu não sabia que a moça era casada.               
A medida que fui vivendo e crescendo as minhas interações com o mundo: afetos, desafetos, vitorias, derrotas, alegrias, tristezas, amores, paixões e vícios me fizeram ser quem sou.
O modo como encaro e penso o mundo só pode ser resultado de meus embates com esse monstro fabuloso e incoercível que é Cronos.
         Então devido ao fato de eu não pensar ou agir conforme a perspectiva de meus pares e concidadãos: me torno automaticamente louco?
         Acho que não!
         Sim sou responsável por meus atos e respondo por eles, pois fiz o que quis fazer, quando, me foi possível faze-lo e nas circunstâncias propicias.
         Posto que existem coisas que posso controlar e outras que me fogem o poder de decidi-las.
         Portanto seguindo sua definição eu sou obrigado a me encaixar numa identidade preexistente segundo sua concepção e viver dentro dela, perdoe-me mas, existem lugares e tempo onde eu seria condecorado, receberia peitas, honrarias e ouro por minhas ações.
         A própria concepção de crime está sob judicie no caso que vamos apreciar doravante.
         Quem define o que é um ato criminoso?
         Os defensores da propriedade, da moral e dos bons costumes, defensores da postura ilibada e do discurso onde o mais importante seria o interdito, o entre linhas.
         Eu contexto cada item.
         Não seria a propriedade privada a primeira causa da desigualdade ente os homens?
         A moral não estaria submetida a existência condições materiais e alimento em abundância?
         Nossos ancestrais nativos costumavam se fartar de seus inimigos como uma forma honra-los e transmitir a seus descendentes força e coragem; não era um bom costume a antropofagia neste pedaço do paraíso?
         Quanto a questão de postura ilibada, senhores eu peço que valha-me o livro santo onde Cristo protegendo Maria Madalena de ser apedrejada ensina-nos como é perigoso julgar tendo si mesmo como referência.
         Todos temos algum cadáver escondido nos armários da vida, jamais admitidos, nem em nossos sonhos, ou pesadelos como queira.
         Seria o canalha de postura ilibada dono de pedreiras, meros abutres?
         Na minha breve estadia nessa nave conheci e interagi com muita gente, vi muitas nuvens, e graças à vida e suas prerrogativas todas elas eram imperfeitas se não fosse assim já estaria preso por homicídio doloso, cuja causa seria: a mais pura e cristalina inveja.
         Queremos a perfeição porém ela nos é obscena, a simetria é beleza inumana.    
         É horrível ser imperfeito, ser mesquinho, faltar com a palavra, mentir para conseguir um coito furtivo, onde a dama finge acreditar e depois finge estar constrangida e terrivelmente magoada com gozo demorado que esmerei-me duramente para que ela alcançaste.
         É muito interessante.
         Sinto-me como se estivesse numa peça teatral cujos personagens usam máscaras para cada ocasião específica, porém não existe diretor, e as cenas são baseadas em mimetismo.
         É que o drama estava sendo encenado muito antes de eu nascer, meu nascimento é em si mesmo parte do espetáculo, eu como coadjuvante, depois fui retirado de cena e obrigado a assistir nossa comedia trágica dentro do seio familiar, fazendo papeis secundários e desimportantes.
         Verificamos quando somos espectadores: o grande número de protagonistas possuindo certas características singulares que as fazem ser aceitas pelo público alvo. É um fato inconteste que torna a personagem digna de ser imitada.
         Por imitação vamos nos adaptando ao palco até a nossa entrada e posterior saída.
Admito ainda que ambas são grotesca e como não poderiam deixar de ser e ainda deveras traumáticas como toda boa tragédia sempre é.
         Sendo eu autor e protagonista simultaneamente pois o papel que desempenho talvez não existisse antes.
         Então embora tenha mimetizado; é ainda necessário que eu me reinvente a cada reentrada neste palco fabuloso que é a vida.
         Tento seguir a média, a moda, o mediano, o medíocre, tento falar o que todos falam, tento vestir o que todos vestem; busco ser tímido porém espalhafatoso ao mesmo tempo, meu personagem pede isso; enquanto acelero mantenho o pê no freio.
         Suponho que seja esquizofrenia pura.
         Apenas algumas pessoas muito próximas sabem quanto sou torpe.
         Não é à toa que estou enlouquecendo; o que é estranho é o fato de eu já não ser completamente doido, pois trata-se de uma situação definitivamente esquizofrênica como minha psiquiatra pode constatar em sua representação, enquanto ela mesma é parte significativa do problema.
         Como alguém pode definir loucura numa sociedade esquizoide como a que divido com os meus participes?
         Existe alguém sã o suficiente, ainda não afetado pelo desenrolar do drama? 
         Não consigo imaginar o que é ser normal nessa joça, embora tente bastante.
         Mas nada disso me exime da minha responsabilidade perante aos fatos, portanto voltemos ao meu crime hediondo.
         Quando a conheci senhores era como a própria definição do amor em Fedro, como eu queria ser digno de Eros, jurava ser dono de toda a virtude para conquista-la, como eu tentei ser virtuoso, tentativa só mensurável ao seu mais completo fracasso.
         A princípio tudo transcorrera numa perfeita harmonia musical como constatado no discurso de Erixímaco, havia sons que não existiam e eu afirmava ouvir, nosso relacionamento foi aceito pela sociedade como sugeriu o pederasta Pauzanias, nas noites de insônia ao lado dela observava seu corpo procurando as marcas do corte que Zeus fizera ao me separar dela. Ali estava minha metade faltante e devido a zanga de um Deus eu não conseguia senti-la completamente, que infâmia tê-la, e não sentir seus sentimentos não participar de seu gozo.
         Quando ela estava distante me faltava o ar, eu não respirava direito sem seu odor peculiar e divino.
         Eu amava a falta que ela me fazia, mesmo quando presente.
         A sua presença me trazia a filia embora quisera eu estar dentro dela o tempo todo, somente o fato de estar perto dela melhorava e aumentava minha energia vital. Sentia-me vivo como nunca sentirá antes.
         Poucas vezes a existência me foi tão cara tão completa, sentia-me um Deus entre o homens, completamente indestrutível.
         Como pode acontecer o crime do qual sou acusado?
         Como pude deixar isso acontecer?
         Lucrécio tinha, e sempre teve razão?
         Porque não a amo mais? 
         Nós nos abandonamos sem um porque, sem uma razão aparente que é essa estranha forma de explicar nossa paixões.
         O senhor leitor que está neste momento me julgando há de aceitar que existem atenuantes para meus crimes, muito embora tenha admitido minha culpa.
         Eu sugiro que a decapitação seja a forma de a sociedade se livrar de tão feroz criminoso.
         Não existe pena de encarceramento para esse infeliz, ele deve ser mandado ao Hades a nado, com o barqueiro lhe batendo na cabeça com o remo.
          Nada mais a declarar.  

Cledemar Pereira Machado               

                 

Nenhum comentário: