Antes de começarmos;
devido à natureza violenta e recheadas de todos vícios humanos conhecidos até
essa data; é necessário que o leitor tenha certa prudência.
Os acontecimentos aqui
narrados são de maneira geral a realidade pela forma como eu enxerguei os
acontecimentos.
É meu ponto de vista! Pode
haver dicotomia entre minha visão e a de outrem que participara do drama.
Sugiro que o leitor se
disponha a verificar a polifonia de discursos em busca da veracidade, supondo
que exista uma.
Existe um arbitrariedade
total na maneira de como encaminho meu escrito.
Começamos, imagine você,
pelo começo, pelo menos eu acho isso, não me lembro do antes.
Quando nasci, foi como
nascem todos os outros humanos, eu era, pequeno, indefeso, sem dentes, sem voz,
e sem instrução.
A minha incapacidade de
sobreviver por meus próprios meios, torna-me dependente total de meu genitores.
Essa situação de
dependência pode, nos dias de hoje, nas famílias comuns brasileiras, durar toda
a encarnação da criatura.
Veja bem, meus pais não
tinham um manual pudesse definir como poderiam me criar.
É uma situação bastante
traumatizante para todos os envolvidos.
Não havia instrução
definindo meu objetivo nesse asteroide frio e desagradável.
Segundo a mitologia Grega
culpa das trapalhadas dos irmãos Epimeteu e Prometeu.
Se não gostar de
mitologia pegues o que quiser como referência, não obstante, nascemos com
absolutamente nada.
Minha genitora fez o
qualquer mãe faz, ofereceu-me seu seio mais por instinto que qualquer outro
motivo.
Mamífero voraz que sou
suguei-a com voracidade de fome existencial, e segundo ela até os três anos de
idade.
A essa família que me
abrigou e devo minha vida e grande parte de minhas neuras.
Porém, membros nossa
espécie tem uma longa trajetória de aprendizagem antes de seguir só pelas
veredas desse sertões que chamam de vida.
Aos sete anos então, para
melhor me situar no campo social, apresentaram-me a escola.
Detestei-a desde o primeiro
contato, foi ódio profundo ressentido e reciproco à primeira vista.
Obrigado a ficar horas e
horas sentado ouvindo uma pessoa com muito pouca paciência e nenhuma aptidão
para a pratica de seu oficio, usando de todos os artifícios para tornar a
existência daquelas pessoas todas junto a mim ainda mais miserável, foi assim
que conheci esse ser chamado professor.
Percebendo isso eu e mais
49 projetos de seres humanos passávamos o tempo em maquinar formas de tornar a
vida daquele ser a mais desgraçada possível, esse era o único momento que
compactuávamos um bem comum; a destruição do mau, o aniquilamento da besta do
apocalipse projetado na imagem daquele ser que tentava nos fazer ler e
escrever, mas porém nos oprimia, nos aprisionava e exigia provas da nossa
aprendizagem.
Eu como bom bárbaro que
era, e talvez ainda seja, boicotava tudo e todos.
Fora isso havia os
conflitos internos entre nosso grupo, a composição das pessoas na sala era
heterogênea, o fato é que inevitavelmente os grupos, as panelinhas, as gangues
se detestavam mutuamente.
Seja pela quantidade de
melanina na pele, poder de consumo, credo, sexismo, ou torcedores do mesmo time
o sistema estava sempre próximo ao colapso.
Infelizmente eu tinha a
cor errada não acreditava e ainda não acredito em absolutamente nada, meu poder
de consumo era e ainda é muito próximo a zero, não torso para nenhum time, e como
infortúnio pouco é bobagem não tinha boa aparência, sou meio esquisito, imagine
vocês que eu lia livros pois era meu único escape daquela sucursal do inferno.
Apanhava e muito, todos
os malditos dias que me dirigia a escola e de tanto apanhar comecei a bater um
pouco, mas como a minha aparência não ajudava, então este quasímodo que vos
fala era sempre o responsável pelo sinistro, é difícil ter cara de culpado; não
importava a ocorrência, meus genitores ignoravam minhas mazelas ou não se
importavam com elas.
Certa feita munido de uma
arma improvisada na saída da escola botei de cama cinco agressores a pauladas.
Observe o porquê de não
botar muita fé na justiça, pois não se deram ao trabalho de questionar como um
garoto de nove anos pôde agredir cinco jovens com mais de onze anos sozinho.
Afinal eram bons jovens e
eu pouco menos que um animal.
A expulsão foi sumaria,
graças aos céus.
As pessoas afirmavam que
aquilo era ruim mas não conseguia vislumbrar essa assertiva.
Bem ou mal o fato é que
eu aprendi a ler, escrever, brigar, enganar, xingar e mentir usando de
sinceridade na escola durante minha primeira estadia nela.
Por ser considerado
inapto para aprender coisas mais complexa pelos detentores do poder na época;
meu pai optou por me ensinar seu oficio que era a carpintaria.
Jamais fui tão feliz
novamente, foi uma época fascinante eu aprendia, eu devorava os ensinamentos de
meu pai e nas folga lia livros e assistia filmes ouvia música sertaneja.
Nunca entendi como um
homem tão sábio podia viver daquela maneira por isso nunca quis tocar violão um
outro oficio em que meu pai era mestre autodidata e compositor, eu nunca compus
um texto musical, uma melodia, tinha medo daquelas que condições miseráveis se
repetissem em mim, apesar de amar todo tipo de música.
Doravante, aprendi a
ouvir e compreender os textos inserido nas canções.
A música tornou-se minha
escola, conheci, seu Salvador, Chico, Gil, Caetano, Milionário e José Rico,
Pedro Bento e Zé da Estrada..., aonde ia estava sempre acompanhada da minha
herança cultural a música penetrava nos espaços físicos, cada pequena fresta
era preenchida, minha casa, no trabalho, no puteiro.
Aprendi na música como
amar e respeitar uma mulher como neste texto do velho.
Saudação as mulheres
Se um homem chora e sofre por uma mulher, tem
todo direito vou dizer agora, pois a grande esperança de seu paraíso está no
sorriso de cada senhora. Esse ser humano tem muito valor e seduz o amor com um
gesto qualquer e foi através de ti que a luz acendeu. Jesus nasceu e foi o rei
do mundo e seu amor profundo proclamou a fé. É por tudo isso que eu tenho
certeza que a maior riqueza do mundo é a mulher.
Meu amigo homem preste atenção minha saudação é
de um modo geral a tua mãezinha doce criatura com toda ternura lhe criou afinal
em sua mão ela segurou seus primeiros passos ela amparou te deixou adulto em pé
sorridente seguindo em frente a vida real e no drama atual hoje faz o que quer,
mas sem o calor da mulher amada segue a estrada errada em um rumo qualquer.
Se alguém me condena por ser mulherengo eu só me
defendo dizendo a verdade: mulher meu amigo é motivo de gloria lhe respondo
agora com sinceridade. Seja mariposa ou esposa fiel tem sempre o papel de amar
e servir. Na força expressiva de ser racional na doce ternura do amor maternal
outra coisa igual ninguém vai sentir, com sinceridade eu vou lhe dizer: sem ter
mulher comigo não quero viver!
Salvador Machado
Provavelmente eu esteja
errado, mas tive privilégio tremendo de ser apresentado a esses seres humanos
fabulosos capazes de transformar a sua realidade em som e texto musicado, são
esses seres que moldaram minha forma de pensar: talvez o mundo não fosse tão
ruim assim.
Lá pelos treze anos de
idade cai na vida sozinho e de cabeça, exercendo a carpintaria e até não estava
tão mau aos quatorze anos nasceu duas de minhas primeiras filhas em Manaus com
duas mulheres diferentes em idade e melanina; uma branca de 40 anos e outra com
uma mulata estonteante e maravilhosa de 25 anos.
O problema não era grana,
mas o sexo! eu praticará com grande número de fêmeas, isso tornou minha estadia
na cidade bastante problemática, para dizer o mínimo, aconteceu o inevitável,
tentaram abreviar minha presença nessa nave, porém não obtiveram êxito e esse
foi o meu primeiro contato com a morte frente a frente.
Jovem demais achava-me
invencível, devido a minha arrogância fiquei, sem grana, transporte e pouso no
meio do caminho entre Manaus e Porto velho, sobrou-me a caixa de ferramenta de
carpintaria e roupa do corpo, o resto fora-me subtraído por alguns gatunos que
eu negligenciará.
Minha interessante
situação fora melhorada, por uma mulher a quem jurei amor eterno e com ela
obtive roupa, casa, comida e três messes depois uma surra que quase me levou a
óbito aplicada por seu marido que havia retornado na sombra da noite e ficou
bastante contrariado em me encontrar no seu leito.
Eu não sabia que a moça
era casada.
A medida que fui vivendo
e crescendo as minhas interações com o mundo: afetos, desafetos, vitorias,
derrotas, alegrias, tristezas, amores, paixões e vícios me fizeram ser quem
sou.
O modo como encaro e
penso o mundo só pode ser resultado de meus embates com esse monstro fabuloso e
incoercível que é Cronos.
Então
devido ao fato de eu não pensar ou agir conforme a perspectiva de meus pares e
concidadãos: me torno automaticamente louco?
Acho
que não!
Sim
sou responsável por meus atos e respondo por eles, pois fiz o que quis fazer,
quando, me foi possível faze-lo e nas circunstâncias propicias.
Posto
que existem coisas que posso controlar e outras que me fogem o poder de
decidi-las.
Portanto
seguindo sua definição eu sou obrigado a me encaixar numa identidade
preexistente segundo sua concepção e viver dentro dela, perdoe-me mas, existem
lugares e tempo onde eu seria condecorado, receberia peitas, honrarias e ouro
por minhas ações.
A
própria concepção de crime está sob judicie no caso que vamos apreciar
doravante.
Quem
define o que é um ato criminoso?
Os
defensores da propriedade, da moral e dos bons costumes, defensores da postura
ilibada e do discurso onde o mais importante seria o interdito, o entre linhas.
Eu
contexto cada item.
Não
seria a propriedade privada a primeira causa da desigualdade ente os homens?
A
moral não estaria submetida a existência condições materiais e alimento em abundância?
Nossos
ancestrais nativos costumavam se fartar de seus inimigos como uma forma honra-los
e transmitir a seus descendentes força e coragem; não era um bom costume a
antropofagia neste pedaço do paraíso?
Quanto
a questão de postura ilibada, senhores eu peço que valha-me o livro santo onde
Cristo protegendo Maria Madalena de ser apedrejada ensina-nos como é perigoso
julgar tendo si mesmo como referência.
Todos
temos algum cadáver escondido nos armários da vida, jamais admitidos, nem em
nossos sonhos, ou pesadelos como queira.
Seria
o canalha de postura ilibada dono de pedreiras, meros abutres?
Na
minha breve estadia nessa nave conheci e interagi com muita gente, vi muitas
nuvens, e graças à vida e suas prerrogativas todas elas eram imperfeitas se não
fosse assim já estaria preso por homicídio doloso, cuja causa seria: a mais
pura e cristalina inveja.
Queremos
a perfeição porém ela nos é obscena, a simetria é beleza inumana.
É
horrível ser imperfeito, ser mesquinho, faltar com a palavra, mentir para
conseguir um coito furtivo, onde a dama finge acreditar e depois finge estar
constrangida e terrivelmente magoada com gozo demorado que esmerei-me duramente
para que ela alcançaste.
É
muito interessante.
Sinto-me
como se estivesse numa peça teatral cujos personagens usam máscaras para cada
ocasião específica, porém não existe diretor, e as cenas são baseadas em
mimetismo.
É
que o drama estava sendo encenado muito antes de eu nascer, meu nascimento é em
si mesmo parte do espetáculo, eu como coadjuvante, depois fui retirado de cena
e obrigado a assistir nossa comedia trágica dentro do seio familiar, fazendo
papeis secundários e desimportantes.
Verificamos
quando somos espectadores: o grande número de protagonistas possuindo certas
características singulares que as fazem ser aceitas pelo público alvo. É um fato inconteste que torna a personagem
digna de ser imitada.
Por
imitação vamos nos adaptando ao palco até a nossa entrada e posterior saída.
Admito ainda que ambas
são grotesca e como não poderiam deixar de ser e ainda deveras traumáticas como
toda boa tragédia sempre é.
Sendo
eu autor e protagonista simultaneamente pois o papel que desempenho talvez não
existisse antes.
Então
embora tenha mimetizado; é ainda necessário que eu me reinvente a cada reentrada
neste palco fabuloso que é a vida.
Tento
seguir a média, a moda, o mediano, o medíocre, tento falar o que todos falam,
tento vestir o que todos vestem; busco ser tímido porém espalhafatoso ao mesmo
tempo, meu personagem pede isso; enquanto acelero mantenho o pê no freio.
Suponho
que seja esquizofrenia pura.
Apenas
algumas pessoas muito próximas sabem quanto sou torpe.
Não
é à toa que estou enlouquecendo; o que é estranho é o fato de eu já não ser
completamente doido, pois trata-se de uma situação definitivamente
esquizofrênica como minha psiquiatra pode constatar em sua representação,
enquanto ela mesma é parte significativa do problema.
Como
alguém pode definir loucura numa sociedade esquizoide como a que divido com os
meus participes?
Existe
alguém sã o suficiente, ainda não afetado pelo desenrolar do drama?
Não
consigo imaginar o que é ser normal nessa joça, embora tente bastante.
Mas
nada disso me exime da minha responsabilidade perante aos fatos, portanto
voltemos ao meu crime hediondo.
Quando
a conheci senhores era como a própria definição do amor em Fedro, como eu
queria ser digno de Eros, jurava ser dono de toda a virtude para conquista-la,
como eu tentei ser virtuoso, tentativa só mensurável ao seu mais completo
fracasso.
A
princípio tudo transcorrera numa perfeita harmonia musical como constatado no
discurso de Erixímaco, havia sons que não existiam e eu afirmava ouvir, nosso
relacionamento foi aceito pela sociedade como sugeriu o pederasta Pauzanias,
nas noites de insônia ao lado dela observava seu corpo procurando as marcas do
corte que Zeus fizera ao me separar dela. Ali estava minha metade faltante e
devido a zanga de um Deus eu não conseguia senti-la completamente, que infâmia tê-la,
e não sentir seus sentimentos não participar de seu gozo.
Quando
ela estava distante me faltava o ar, eu não respirava direito sem seu odor
peculiar e divino.
Eu
amava a falta que ela me fazia, mesmo quando presente.
A
sua presença me trazia a filia embora quisera eu estar dentro dela o tempo
todo, somente o fato de estar perto dela melhorava e aumentava minha energia
vital. Sentia-me vivo como nunca sentirá antes.
Poucas
vezes a existência me foi tão cara tão completa, sentia-me um Deus entre o
homens, completamente indestrutível.
Como
pode acontecer o crime do qual sou acusado?
Como
pude deixar isso acontecer?
Lucrécio
tinha, e sempre teve razão?
Porque
não a amo mais?
Nós
nos abandonamos sem um porque, sem uma razão aparente que é essa estranha forma
de explicar nossa paixões.
O
senhor leitor que está neste momento me julgando há de aceitar que existem
atenuantes para meus crimes, muito embora tenha admitido minha culpa.
Eu
sugiro que a decapitação seja a forma de a sociedade se livrar de tão feroz
criminoso.
Não
existe pena de encarceramento para esse infeliz, ele deve ser mandado ao Hades
a nado, com o barqueiro lhe batendo na cabeça com o remo.
Nada mais a declarar.
Cledemar Pereira Machado
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