Escolho
meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela
pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A
mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero
resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e
aguentem o que há de pior em mim.
Para
isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das
diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho
meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o
ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri
junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade
bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros
piedosos.
Quero
amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de
aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não
quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra
metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento
no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho
amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos
e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a
"normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Autor:
Oscar Wilde
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