terça-feira, 5 de outubro de 2010

Guardanapos de Papel

Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas, trombetas

E sempre aparecem quando menos aguardados, guardados

Guardados entre livros e sapatos, em baús empoeirados

Saem de recônditos lugares, nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares, seus pares
Seus pares

E convivem com fantasmas multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras
E te pedem que não chores

Suas ilusões são repartidas, partidas, partidas
Entre mortos e feridas, feridas, feridas
Mas resistem com palavras confundidas, fundidas, fundidas
Ao seu triste passo lento pelas ruas e avenidas

Não desejam glorias nem medalhas, medalhas, medalhas

Se contentam com migalhas, migalhas, migalhas
De canções e brincadeiras com seus versos dispersos, dispersos
Obcecados pela busca de tesouros submersos

Fazem quatrocentos mil projetos
Projetos, projetos, que jamais são
Alcançados, cansados, cansados nada disso
Importa enquanto eles escrevem, escrevem, escrevem

O que sabem que não sabem
E o que dizem que não devem

Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num estranho céu de estrelas idiotas
E outras e outras
Cujo brilho sem barulho veste suas caudas tortas

Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares, milhares, milhares
De palavras retrocedendo-se confusas, confusas, confusas,

Em delgados guardanapos
Feito moscas inconclusas

Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
Que eles vêem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram

Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e ao mundo inteiro
Inteiro, inteiro, fossem vendo pra
Depois voltar pro Rio de Janeiro

Leo Masliah e Carlos Sandroni

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